Proteína da banana combate vírus da Aids, hepatite C e gripe

Estudos alimentam esperança para criação de medicamento antiviral amplo



RIO — Os benefícios do consumo de bananas são bastante conhecidos, mas novos estudos apontam que uma proteína encontrada na fruta, batizada como lectina da banana (BanLec), pode ajudar na criação de medicamentos usados no combate contra infecções virais. A substância é capaz de ler “códigos de açúcar” em células e vírus. 


Esses códigos são usados na comunicação das células do corpo para se comunicarem, mas que são sequestrados por vírus e outros invasores.

Há cinco anos, estudos demonstraram que a BanLec era capaz de impedir que o HIV invadisse as células do corpo, mas também causava efeitos colaterais tão graves que limitava o seu uso medicinal. Um novo experimento, publicado nesta quinta-feira na revista científica “Cell”, demonstra a criação de uma nova forma da BanLec, que ainda combate vírus em cobaias, mas não provoca irritações e inflamações indesejadas.

— O que nós fizemos é excitante porque existe o potencial da BanLec para o desenvolvimento em um agente antiviral de amplo espectro, algo que não está disponível clinicamente para médicos e pacientes atualmente


 — disse David Markovitz, professor na Escola de Medicina da Universidade do Michigan e coautor do estudo.

 — Mas também é excitante ter criado pela engenharia uma molécula de lectina pela primeira vez, pelo entendimento da sua estrutura.


Pelo estudo da estrutura da BanLec, os pesquisadores conseguiram identificar a parte da molécula responsável pelos efeitos desejados e indesejados. 

Então, eles construíram em laboratório uma nova versão da BanLec, chamada H84T, mudando ligeiramente a sua genética. Como resultado, uma nova forma da BanLec que combate vírus causadores da Aids, hepatite C e influenza em amostras de sangue e tecido, sem causar inflamação. Os cientistas também demonstraram que a H84T BanLec protegeu um rato contra o vírus da gripe.

Os esforços para o entendimento e reconstrução da BanLec contaram com a participação de 26 pesquisadores de cinco países, com financiamento de fundações e do governo americano e de países europeus. Com técnicas modernas de raio-X, eles analisaram a localização exata de cada átomo na proteína, que ajudaram na compreensão de como a BanLec se conecta tanto aos vírus como às moléculas de açúcar na parte externa das células.

Esse entendimento permitiu a alteração no gene de forma a manter essa característica, de manter os vírus fora das células, mas sem disparar respostas do sistema imunológico. A nova versão da BanLec tem uma estrutura a menos em sua superfície para açúcares, chamada como “chave grega”. Isso torna impossível que açúcares dos linfócitos T se prendam à proteína, mas ainda permite que a BanLec se agarre aos açúcares na superfície dos vírus.

Apesar dos resultados promissores em laboratório, testes em humanos ainda exigem alguns anos de pesquisas. Mas os cientistas estão confiantes no desenvolvimento de drogas que funcionem contra vários tipos de vírus e contra vírus que se modificam rapidamente, como o influenza.

— Melhores tratamentos contra a gripe são urgentes 
— disse Markovitz. 
— O Tamiflu é apenas modestamente efetivo, especialmente em pacientes em estado crítico, e o influenza pode desenvolver resistência contra ele. Nós esperamos que a BanLec possa se tornar útil em situações como respostas contra emergências pandêmicas, onde a causa precisa de uma infecção é desconhecida, mas a causa viral seja suspeita.


 

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