Síndrome das pernas inquietas: mania ou doença?




No escritório, no cinema ou na cama antes de dormir: balançar as pernas é uma forma comum de aliviar a ansiedade. Mas o movimento repetitivo pode esconder um distúrbio mais grave e demandar tratamento adequado.
Balançar as pernas é uma forma comum e, muitas vezes, inconsciente de aliviar a ansiedade e o nervosismo. Mas quando esses movimentos são incontroláveis e vêm acompanhados de dor, podem se tornar uma questão de saúde.
A síndrome das pernas inquietas é um distúrbio caracterizado pela alteração da sensibilidade e agitação motora involuntária dos membros inferiores — nos casos mais graves, pode afetar também os braços. Os sintomas, que incluem sensação de formigamento, queimação e pontadas nas pernas, costumam se intensificar quando a pessoa está em repouso e à noite, comprometendo a qualidade do sono. Lilo Habersack, que tem a síndrome, sentiu os primeiros sinais quando estava no teatro. "Eu não conseguia mais ficar parada sentada, precisava movimentar minhas pernas, mas estava com medo de incomodar as pessoas ao lado. No intervalo, foi tudo bem, mas foi só sentar de novo para voltar tudo", conta. Com os membros em movimento, o incômodo passa. "A pessoa desconecta a informação que vai para o cérebro sobre essa dor, é uma forma de buscar alívio por mecanismos neurofisiológicos", explica o neurocirurgião Jorge Bruno González.

Causas e diagnóstico

As causas da síndrome ainda não são bem conhecidas, mas González diz que há fatores associados, como diabetes, deficiência de ferro e doenças crônicas no rim ou neurológicas, como esclerose múltipla.
Segundo Wolfgang H. Oertel, neurologista e professor da clínica da Universidade de Marburg, existem pesquisas, inclusive na Alemanha, que apontam ainda a genética como causa provável.
O diagnóstico é basicamente clínico e, por isso, depende da descrição do paciente sobre os sintomas. "As pessoas fazem muitas perguntas, como se estão com algum parasita na perna, e dizem que sentem como se formigas andassem nela, é bem difícil de descrever", diz Oertel.
"Se eu cortar meu dedo, todos podem entender o quanto dói. Mas quando eu preciso explicar a dor que sinto, é 'parece que está puxando aqui ou rasgando ali'", diz o paciente Lilo Habersack, que tem histórico da síndrome na família.
                                                Prevenção e tratamento
A profilaxia (prevenção) é a medida mais eficaz contra a síndrome. "É preciso buscar um estilo de vida saudável, com exercícios de leves a moderados e alimentação correta", diz González. Café, álcool e cigarros devem ser evitados. Se a causa for a falta de ferro no organismo, é possível repor os níveis do mineral com suplementos ou uma dieta balanceada. No caso de sintomas mais severos, medicamentos podem auxiliar no tratamento. Entre eles, estão os remédios com dopamina, substância que o cérebro libera e que é responsável, entre outras coisas, por controlar os movimentos e as reações sensitivas. O tratamento também pode envolver remédios para a dor e, em último caso, medicamentos à base de ópio. Certas substâncias farmacológicas, por sua vez, agravam os sintomas. "É o que acontece com alguns antidepressivos e antialérgicos, que bloqueiam a produção de dopamina", explica González.
                                               Terapias alternativas
Ainda sem comprovação científica, González diz que estudos apontam diminuição dos sintomas em praticantes de exercícios energéticos, como tai chi, chi kung e yoga. "Também são possíveis a acupuntura, para tratar fatores psicossomáticos que pioram as dores, e a terapia neural, para aumentar a ativação do sistema nervoso", acrescenta. Técnicas de relaxamento como o treinamento autógeno — criado pelo psiquiatra alemão Heinrich Schultz no início do século 20 — podem amenizar os distúrbios do sono, mas são contraproducentes no caso da síndrome, porque situações de calma e descanso agravam os sintomas. Em vez disso, são indicadas atividades que ocupam a cabeça e exigem concentração, como jogar palavras cruzadas, passar roupa ou tricotar. Para os desconfortos noturnos, Oertel recomenda ter uma bicicleta ergométrica próxima à cama. "Eu costumo indicar também às pessoas, se possível, procurarem um trabalho em que possam ser mais ativas, que as faça caminhar por uma ou duas horas." Muitos pacientes relatam ainda que passar água fria e fazer compressas de gelo nas pernas alivia os sintomas.








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